quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Narrativa Poética - Almeida Garrett



Um jovem com alma de poeta, que cresceu livre em quintas da família onde uma ama lhe contava histórias de bruxarias, descobriu muito cedo que a vida é um teatro. Recebeu uma educação clássica, lia muito, graças à facilidade que tinha no estudo de obras da antiguidade e ao uso eloquente que fazia das palavras, pensaram que poderia seguir com grande sucesso a carreira eclesiástica, mas o seu destino era outro: licenciou-se em Direito, abraçou a literatura, em todas as suas vertentes, impulsionou o teatro, interessou-se pelas raízes da sua nação e, dotado de ideias liberais, tornou-se uma figura proeminente no mundo da diplomacia e da política, chegando a cargos de grande relevo, como o de ministro. 

O drama, vivido até ao limite, era indissociável da sua vida e da sua obra. Amou, amou, amou, com a sua figura de dândi que gostava de se exibir em salões aristocráticos, e quando tinha o coração cansado de tanto amar tornou-se um gordo barão, o que foi uma espécie de rendição face ao destino que tanto o fizera sofrer. Gasto de espírito, sujeito aos caprichos da difícil arte do amor, restavam-lhe, para acalentarem a sua vaidade, a posição social privilegiada, o desafogo material e o reconhecimento pátrio. Para trás deixava uma obra que profundamente marcaria a literatura do seu país, renovando-a e modernizando-a, dando-lhe os primeiros matizes do romantismo. Mas seria à dramaturgia que mais ficaria associado o seu nome aristocrático, pois toda a sua vida foi realmente um drama que quis por em cena, sendo ele próprio a procurar os melhores palcos, como o do Teatro Nacional que ajudou a fundar... Mais tarde, um outro poeta diria, talvez a pensar nele: «O poeta é um fingidor...» Sim, e a vida é um teatro, ele concordaria prontamente...

Sem comentários:

Enviar um comentário