segunda-feira, 5 de junho de 2023

Trabalho é quase tudo e esta é uma história com muitos milhares de anos

Trabalho é qualquer esforço que acrescenta valor de uso a bens e serviços. Ao longo de milhares de anos, fez-se largamente fora dos empregos como nós os entendemos, defende Jan Lucassen em mais de 600 páginas.

Um romance português de meados do século XX, um homem rico entra na casa do porteiro de um dos seus prédios. Repara que a família inteira está à mesa, mas só o pai tem direito a carne no prato, ficando-se os outros pelas batatas. 

É ele quem trabalha, explicam-lhe. Ao ver a quantidade de tarefas efetuadas pela mãe, o visitante comenta que a principal trabalhadora ali parece ser ela.

A moral da época, no entanto, era patriarcal. O Estado Novo — quando foi publicado “Angústia para o Jantar”, de Sttau Monteiro — valorizava o trabalho ao ponto de o encarar como uma virtude cívica que dispensava outras (“a minha política é o trabalho”), mas entendia-o numa aceção restrita, como ele continua largamente a ser visto ainda hoje.

Trabalho é aquilo que “leva comida” para casa, e o resto encontra-se uns degraus abaixo.

Jan Lucassen discorda. “Considero todos os empreendimentos humanos, à parte o tempo livre ou o lazer, como sendo trabalho.”

Citando dois autores americanos, Charles e Chris Tilly, sugere que trabalho é qualquer esforço que acrescenta valor de uso a bens e serviços. 

Ao longo de centenas de milhares de anos o trabalho humano fez-se largamente fora dos empregos como nós os entendemos. 

Só no último século e meio a situação mudou. Ainda os Tilly: “É o preconceito criado pelo capitalismo ocidental e pelos seus mercados laborais industriais...

In Luis M. Faria / Expresso


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