Por que motivo optou por escrever poesia?
RF - Para mim a poesia funde-se com a própria existência. É intrinsecamente o afago maior da palavra e envolve a interlocução com o outro a partir de imagens simbólicas, de silêncios, dos sentidos e afetos que nos habitam. E porque poesia torna a realidade e a vida muito mais aceitáveis, nas suas diferentes perceções. Por isto, faz sentido para mim escrever poesia.
É difícil vingar na escrita poética em Portugal, que podemos fazer para contornar esse facto?
RF - Não será mais difícil, o que precisamos é de boa poesia que nos leve aos caminhos das emoções, da sensibilidade e da imaginação e que nos transmita conhecimento e valores humanos. E estaremos preparados para acolher a mudança? Porque a poesia muda-nos!
A realidade é que não nos apetece mudar ou refletir. Logo, lemos menos poesia. É urgente reverter a situação, em casa, na escola e criar espaços culturais onde possa prevalecer a leitura e escrita de poesia.
Que competências terá de ter um aspirante a poeta?
RF - Todos somos um pouco poetas, mas é a perplexidade, o espanto, a indignação e estar constantemente em inquietação para definir e construir uma linguagem que não seja comum. Ter a capacidade de diversificar as palavras e criar intimidade entre elas.
Qual o seu poeta português preferido?
RF - Não posso escolher apenas um. Mas tenho alguma preferência pelos poetas do movimento surrealista e destaco Alexandre O’Neill, Mário Cesariny, Sophia de Mello Breyner e tantos outros, Eugénio de Andrade, Herberto Hélder, este, um dos mentores da Poesia Experimental Portuguesa. Aprecio a obra de Nuno Júdice e Natália Correia.
Porquê?
Acho que com este leque de poetas a resposta está dada: poesia que se degusta e entranha e não se pode viver sem ela.
“Ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.”
E o estrangeiro?
RF - Gosto de alguns poemas destes poetas: Federico Garcia Lorca, Paul Valéry, Elizabeth Bishop.
Porquê?
Pela variedade dos temas e originalidade.
Se tivesse conhecido Fernando Pessoa, o que lhe diria?
RF - A pergunta não é fácil, não consigo transportar-me à época, mas se fosse possível hoje, seria: Se os “eus” dele fariam sentido hoje e se arriscaria a sua criação.
- E se fosse Camões?
RF - Na mesma linha de pensamento e deduzindo que ele não se iria encaixar na atualidade, quais seriam os temas que ele privilegiaria neste novo Portugal?
Projetos futuros?
RF - Continuar a aprimorar a escrita e desenvolver as minhas competências nesta área.
Acreditar que vale a pena escrever o tanto que sinto e tenho para dizer. Neste momento tenho vários trabalhos para finalizar e brevemente surgirão alguns livros, em prosa, poesia e infantis. Mantenho as crónicas em dois jornais.
Que sugestão gostaria de deixar aos jovens que gostem de escrever?
RF - Que acreditem e desenvolvam a criatividade e sentido crítico. Que leiam muito.
Também alertá-los para a realidade e os muitos obstáculos que irão encontrar.
Que opinião tem da Revista Livros & Leituras, um projeto literário sem fins lucrativos?
RF - Todos os projetos literários, quando bem organizados e credíveis são uma mais valia para todos, leitores e escritores. É uma Revista que incentiva e dá a conhecer o que se vai fazendo na literatura. Pretende-se que seja abrangente, dinâmica e eclética.
Sem comentários:
Enviar um comentário