Ingredientes:
1 galinha c/ sangue
1 cebola
5 dentes de alho
Vinho branco
Pimentão doce
Polpa de tomate
Azeite
100 g de banha
Louro
Tomilho
Segurelha
Cominhos
2 colheres de sopa de
vinagre
Caldo de carne
Sal
Pimenta preta
Deve começar por partir a galinha
em pequenas partes e colocá-la, durante pelo menos duas horas, numa marinada de
vinho branco, alho, louro, sal, pimenta preta e pimentão doce.
Num tacho, prepare o refugado.
Pique a cebola, adicione um pouco de azeite, a banha e o louro. Quando a cebola
já estiver alourada, adicione a galinha e envolva para que a carne comece a
ganhar sabor. Adicione a marinada, a polpa de tomate a gosto, o caldo de carne,
o tomilho, a segurelha e cominhos (ativa muito o sabor dos cozinhados). Pode também colocar um
pouco mais de pimenta.
Quando a galinha estiver quase cozinhada, adicione o arroz. Para que não empape muito, uso habitualmente o agulha.
Numa tigela, coloque o sangue e as duas colheres de sopa de vinagre.
Misture bem e coloque no tacho. Envolva tudo. 12/15 minutos depois, o prato
está pronto a servir. Deixe apurar uns minutos e pasme-se com esta iguaria que
regalou diversas vezes o nosso Eça de Queirós.
História:
Já aqui o referi. Eça de Queirós
foi um exímio gastrónomo. Citou, nas suas obras, pratos para todos os gostos.
Foi o único escritor português a fazê-lo com tanta frequência. Por isso, as
Receitas Literárias da REVISTA LIVROS & LEITURAS vão destacar aqui alguns
dos seus emblemáticos pratos. A cabidela
aparece evidenciada n´O Crime do Padre Amaro, obra escrita em 1871, lida a alguns
amigos um ano mais tarde e publicada em 1874.
Repare-se nestes dois parágrafos seguidos. Os pratos desfilam uns atrás dos outros. Vejam como ao autor escreveu a palavra "Cozinheiros". Optou por usar uma maiúscula num substantivo. O objetivo do romancista foi atribuir importância ao lexema, como se fosse um nome próprio. Existem vários exemplos destes nos seus livros. A paixão de Eça pelo universo da cozinha era evidente.
Ao longo de toda a obra, Eça de Queirós cita a palavra cabidela por quatro vezes. Faz até alusão a uma “cabidela de
caça”:
«(...)O excelente abade estava escarlate de satisfação. Era, como
dizia o senhor chantre, "um divino artista" ! Lera todos os
Cozinheiros completos, sabia inúmeras receitas; era inventivo — e, como ele
afirmava dando marteladinhas no crânio, "tinha-lhe saído muito petisco
daquela cachimônia" ! Vivia tão absorvido pela sua "arte" que
lhe acontecia, nos sermões de domingo, dar aos fiéis ajoelhados para receberem
a palavra de Deus, conselhos sobre o bacalhau guisado ou sobre os condimentos
do sarrabulho. E ali vivia feliz, com a sua velha Gertrudes, de muito bom
paladar também, com o seu quintal de ricos legumes, sentindo uma só ambição na
vida — ter um dia a jantar o bispo! (...)»
" (...) — Oh senhor pároco! dizia ele a Amaro, por quem é! mais um bocadinho de cabidela, faça favor! Essas codeazinhas de pão ensopadas no molho! Isso! isso! Que tal, hem? — E com um aspecto modesto: — Não é lá por dizer, mas a cabidela hoje saiu-me boa!... (…)"
« (...) — Pois o abade deu-nos um rico jantar. A cabidela estava de mão— cheia! Eu carreguei-me um bocado, disse o cônego rufando com os dedos na capa do Breviário. (...)»
«(...) Dias depois o padre Amaro e o cônego Dias tinham ido jantar
com o abade da Cortegassa. — Era um velho jovial, muito caridoso, que vivia há
trinta anos naquela freguesia e passava por ser o melhor cozinheiro da diocese.
Todo o clero das vizinhanças conhecia a sua famosa cabidela de caça. (...)»
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