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quarta-feira, 19 de abril de 2023

É difícil fazer descobrir e amar a poesia e a literatura às crianças?

É difícil fazer descobrir e amar a poesia e a literatura, mas há estratégias de simplificação que nos deixam perplexos, como esta sinopse que, num manual escolar, o humorista Hugo van der Ding apresenta do Livro de Cesário Verde: "Em que um tipo dá uns passeios por Lisboa e só não pede o dinheiro de volta porque não tinha pagado nada".

Não sou tão conservador que rejeite uma aproximação mais desenvolta e juvenil, mais adequada ao mundo das novas gerações, das grandes obras literárias.

Daniel Pennac escreveu alguns livros a insistir, com razão, na necessidade de aproximar os objetos de leitura propostos aos jovens das linguagens e modos de ver o mundo do nosso tempo. Mas isso não significa atribuir aos jovens, à partida, um certificado de atraso mental e falar com eles como falamos com os recém-nascidos.

Ora entre um "dá-dá-gu-gu" e a original apresentação com que Hugo van der Ding pretende aproximar os jovens leitores da maravilhosa poesia de Cesário, a distância mental é curta.

Pedro Abrunhosa, que é um bom músico e cantor, decide entrar também na propedêutica literária, com o seguinte comentário ao Amor de Perdição: "Tivesse Camilo Instagram quando foi preso e teria aumentado exponencialmente o número de seguidores". Não se entende em que é que este jogo simplista de anacronismo primário pode ajudar um jovem leitor a entrar no mundo, tão longínquo para nós, do Amor de Perdição. Mas é modernaço, fala do Instagram, está feito.

Não li estes criativos manuais de ensino literário e o meu conhecimento destas pérolas críticas chega-me pelo Facebook, através dos posts do meu amigo António Carlos Cortez, um professor e poeta que se bate denodadamente pelo ensino a sério da literatura e contra o processo de infantilização e empobrecimento intelectual que alastra pelo nosso ensino, não obstante a existência de excelentes professores e dedicados bibliotecários, que mantêm acesa a "pequenina luz bruxuleante" (Jorge de Sena) da leitura nas escolas.

In DN / Luís Castro Mendes

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