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domingo, 16 de abril de 2023

Hoje, importa recordar Alberto Caeiro

(16 de abril de 1889 -1915)

Alberto Caeiro da Silva (pseudónimo de Fernando Pessoa) era o Mestre, de ele próprio e dos outros heterónimos. 

Nasceu em Lisboa, às 13:45 horas do dia 16 de abril de 1889 e morreu tuberculoso em 1915, apenas com 26 anos.

Sabemos o dia em que viu a luz da vida, através da Carta Astrológica que Pessoa lhe traçou e os restantes pormenores pela sua epístola a Adolfo Casais Monteiro, de 13 de janeiro de 1935. 

Órfão de pais cedo, Alberto Caeiro viveu com uma tia-avó idosa numa quinta do Ribatejo, facto que terá certamente influenciado a sua visão imediata da realidade, rejeitando a intelectualização e a metafísica, (“Há metafísica bastante em não pensar em nada.”) para se entregar inteiramente às sensações, ao olhar, à natureza com a qual está em harmonia sensacionista e panteísta, como se se diluísse no todo, sem fronteira alguma.

Loiro, de olhos azuis e cara rapada, de estatura mediana, sem profissão e tendo apenas como estudos a instrução primária, Caeiro, o “único Poeta da Natureza”, como se definiu nos poemas que escreveu, não pretendia ser mais do que “um guardador de rebanhos” (Eu nunca guardei rebanhos, /Mas é como se os guardasse.), sendo estes os seus pensamentos e sensações. 

Seria ele, o menos instruído, o que escrevia um português menos correto, mas também o mais simples, com a ingenuidade de uma criança, o escolhido para mestre de todos os outros. Porque, mesmo assim, só ele era o verdadeiro “argonauta das sensações verdadeiras”, aquele que trazia ao “Universo um novo Universo”, “ele-próprio”.

E tudo isto, sem metafísicas inúteis, nem considerações filosóficas abstratas, apenas com uma objetividade total, uma imensa capacidade de tudo ver e sentir, sem necessidade de pensar, deixando-se fluir no imenso Universo, numa forma de paganismo e panteísmo absolutos, em que tudo é Deus.

Basta-lhe descobrir a “ espantosa realidade das coisas”, todos os dias, porque a todos os momentos a natureza se renova e se abre com uma nova paleta de cores e de sensações ao seu olhar “nítido como um girassol”. 

Fernando Pessoa fez dele um “poeta bucólico, de espécie complicada”, anti-racionalista, anti-intelectual.

Procuro dizer o que sinto/Sem pensar em que o sinto”), defensor da imediatez do primeiro olhar (“O essencial é saber ver, /Saber ver sem estar a pensar,”), que “não interroga nem se espanta”, desgarrado dos conceitos de tempo e de espaço (“Não quero incluir o tempo no meu esquema”), criador da “ciência de ver, que não é nenhuma”) panteísta por espontaneidade e intuição (“Mas se Deus é as flores e as árvores/ E os montes e sol e o luar, /Então acredito nele,”), defensor de uma existência serena, de integral...

Ser poeta não é uma ambição de Caeiro, mas a sua “maneira de estar sozinho”, procurando dizer o que sente, sem pensar em que o sente, tentando até despir-se do que aprendeu. Não obstante, a sua vida está inteiramente contida na sua poesia porque ela é o resultado da inocência do seu olhar plasmando-se na sua escrita intuitiva. (“A minha alma é simples e não pensa./O meu misticismo é não querer saber/ É viver e não pensar nisso.”)

Fernando Pessoa deixa-se influenciar pelo Mestre de que ele próprio foi criador, naquele encenado “dia triunfal” da sua vida, dizendo que quando escreve em nome de Caeiro, o faz “por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular que iria escrever.”
Por sua vez, Álvaro de Campos afirma em "Notas para a recordação do meu mestre Caeiro" que ele “era um temperamento sem filosofia, e por isso a filosofia dele - que a tinha, como toda a gente - não é susceptível sequer destas brincadeiras do jornalismo intelectual.

By Margarida Ribeiro 

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