Com prefácio do historiador e jornalista Adelino Cunha, a Dom Quixote relança na próxima semana, “Jorge Jardim – Agente Secreto”, a biografia do historiador José Freire Antunes, editada originalmente em 1996 e há muito esgotada no mercado nacional.
“Existem livros que possuem valor histórico por si próprios e livros que acrescentam conhecimento às dinâmicas historiográficas.
Este livro do historiador José Freire Antunes tem relevância em ambas as circunstâncias e não deve ser dissociado de nenhuma delas.
Por um lado, e embora se trate do exercício biográfico de uma personalidade com traços de excentricidade, a vida de Jorge Jardim mobiliza simultaneamente um vasto recorte cronológico da história contemporânea, de pessoas e de circunstâncias.
Por outro, porque este estudo narrativo contribui para a diversificação da historiografia produzida sobre o século XX português e, em grande medida, sobre a história do Estado Novo e da África portuguesa.
Trata-se de um exercício editorial de liberdade, porque a liberdade também se constrói contra a hegemonia da interpretação através da diversidade e variabilidade das perspetivas históricas”, escreve, no prefácio, Adelino Cunha, que considera esta reedição importante num período em que se aproximam as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.
Por este livro, e a propósito das díspares movimentações de Jorge Jardim, transitam todos os grandes protagonistas da História de Portugal durante quatro décadas, nas esferas da política, da diplomacia, da economia, das Forças Armadas, e também os líderes marcantes da África Austral, de Ian Smith a Kenneth Kaunda e a P. W. Botha — entrevistados no Zimbabwe, na Zâmbia e na África do Sul —, de Julius Nyerere a Eduardo Mondlane, de Hastings Banda a Samora Machel e a Joaquim Chissano.
Jorge Jardim foi um homem de sete ofícios e de sete faces. De sub-secretário de Estado de um governo de António de Oliveira Salazar, rapidamente se mudou para África e aliou a sua atividade empresarial à política e diplomacia... paralela. Esteve em Angola no início de 1961, foi preso no ex-Zaire e saiu liberto escapando ao pelotão de fuzilamento porque... tinha muitos filhos. Entrou na Índia disfarçado, para recolher informações e voltou após a queda de Goa para negociar a libertação do contingente militar aprisionado pelos indianos. Em Moçambique, exerceu influência que ultrapassava as autoridades civis e militares e negociou com os governos moderados da Zâmbia e Malawi, enquanto montava uma rede de informações nos países vizinhos, com moçambicanos e desertores da própria FRELIMO.
“A história de uma das figuras mais carismáticas e influentes da fase final do Império português”, escreve José Freire Antunes, no prológo de uma obra elogiada por Adriano Moreira: “Os trabalhos de José Freire Antunes como que iniciam a correção da literatura de justificação até hoje dominante.”
José Freire Antunes (1954-2015) foi Mestre em Relações Internacionais pela Faculdade de Ciências da Comunicação da Universidade Complutense de Madrid. Foi Research Associate e Visiting Scholar da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, e adjunto político do primeiro‑ministro Aníbal Cavaco Silva entre 1988 e 1993. Autor de mais de vinte livros sobre a história e as relações externas de Portugal, publicou inúmeros artigos em diversos jornais e revistas.
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