«O que é um atlas para nós, Borges? Um pretexto para entretecer na urdidura do tempo os nossos sonhos feitos da alma do mundo.» A voz de María Kodama (falecida em março deste ano, companheira de Jorge Luis Borges, com quem começou a viajar em 1975) ecoa no epílogo de Atlas, o derradeiro livro do grande escritor argentino que a Quetzal agora reedita, numa altura em que Borges e María estão definitivamente juntos, num tempo onde a Poesia, o Amor e a Beleza são incandescentes.
Cada título engloba uma unidade, feita de imagens e de palavras. Os lugares, as cidades e os países que percorreram juntos foram vistos e vividos por Borges através dos sons, das línguas que neles se falavam, da textura do ar, das qualidades da luz. Kodama fotografava e descrevia; Borges recitava e, da memória, recuperava nomes, poemas, fragmentos e testemunhos da grande literatura.
Escreveu depois pequenos textos: sobre a História, os mitos e a poesia que habitavam esses lugares, aliando às impressões de viagem a riqueza inesgotável da sua biblioteca. Por isso, nestas páginas está grande parte dos seus sonhos, dos seus escritores preferidos, dos temas que sempre povoaram os seus livros e as suas alegrias.
A edição da Quetzal que chega amanhã às livrarias, com tradução de Fernando Pinto do Amaral, dá continuidade à série de novas capas retiradas do tríptico As Tentações de Santo Antão, do pintor Hieronymus Bosch, exposto no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.
By Sílvia Fernandes / Subdiretora
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