Entrevista: o livro "A Embaixada" de José Manuel Saraiva...
Entre a fé e a cegueira do poder, o sentido de missão e a vaidade, só o amor poderá ser redentor. Aos olhos de Deus as personalidades da história não ficarão impunes. E Deus não jogará aos dados.
Qual a importância desta união para as partes, rei e Vaticano?
Para o Rei português, a embaixada que enviou ao Papa Leão X constituiu uma afirmação do seu poder temporal e da sua riqueza como soberano de um país que, naquela época, era dono de metade do mundo; para o Papa Leão X, a embaixada que o Rei português lhe enviou serviu não só para confirmar o seu poder espiritual no seio da Cristandade, mas também para receber presentes de inestimável valor, de modo a enriquecer a Igreja e ele próprio se enriquecer ainda mais.
Qual o papel de Deus no meio disto tudo?
Não sou crente. Portanto, para mim, Deus não teve nenhum “papel no meio de disto tudo”.
O que despoletou o seu interesse por esta história?
Foi o facto de se tratar de uma história invulgar, pouco conhecida dos portugueses, com aspectos rocambolescos. Tratou-se de uma verdadeira aventura, que reuniu exotismo, determinação, intriga política. Noutro país, com mais recursos, já teria dado um filme.
E pelo romance histórico?
O interesse que tenho pela riquíssima História de Portugal. E o gosto pela escrita.
Em que medida o seu cotidiano ajuda a escrever?
Não há nada no meu dia-a-dia que me ajude a escrever. De qualquer modo, só consigo escrever num ambiente tranquilo, de preferência ao som de música clássica.
E a sua ligação ao jornalismo?
O jornalismo aconteceu muito antes de escrever e publicar romances e/ou novelas. O Jornalismo foi um acaso. Podia ter escolhido outra profissão, sem dúvida, mas o Jornalismo aconteceu-me por um conjunto de circunstâncias que muito me felicitaram e de cujo exercício muito me orgulho.
Que impacto teve o lugar onde nasceu na sua trajetória literária?
Não teve nenhum impacto.
Qual foi a obra de que mais gostou de escrever e porquê?
Talvez seja mais fácil falar do livro que menos gostei de escrever – “A terra toda”. Se fosse hoje, se pudesse voltar atrás, não o teria escrito. Foi uma aposta num género que não era a minha “praia". Fugiu a tudo quanto tinha feito até ali e viria depois a fazer.
Como se inspira para escrever um livro?
Não tenho nenhuma maneira especial de me inspirar. Não há inspiração nenhuma. Começo por escolher um tema que considere interessante e do meu agrado e, só depois, procuro criar um ambiente de grande concentração mental e desenvolver muito trabalho de pesquisa.
Em que momentos do dia escreve habitualmente?
De manhã e à tarde. Nunca escrevo à noite.
Quais são as suas referências literárias?
Acho que não tenho referências literárias. Obviamente, sou tocado por variadíssimos autores que muito aprecio e admiro, alguns clássicos, por exemplo, e tantos outros que me encantam e me fascinam.
Qual o escritor de que mais gosta?
Não consigo responder a essa pergunta. Se ao longo da minha vida tivesse lido uma dúzia de autores, ou pouco mais do isso, certamente seria capaz de responder com alguma precisão. Mas como li muito e muitos escritores, tenho uma enorme dificuldade de dizer qual o meu predilecto. De qualquer modo, direi que tenho um que nunca dispenso: Stefan Zweig
Quem já deveria ter sido laureado com o Prémio Nobel da Literatura?
Philip Roth… se ainda fosse vivo.
Qual a importância das pesquisas que faz para os factos retratados nas suas obras?
A pesquisa é absolutamente vital para a minha escrita. Sem pesquisa não teria escrito nenhum dos livros que escrevi.
O que está a ler neste momento?
Acabei de ler “O resgate de Freud”, de Andrew Nagorski, e estou agora a ler, com muito gosto, “Causas da decadência dos povos peninsulares nos três últimos séculos”, de Antero do Quental – que aconselho vivamente.
Qual foi o livro que "mudou" a sua vida?
Nenhum livro mudou o curso da minha vida. Mas talvez muitos livros a tenham mudado…
Que tipo de livro que gosta de oferecer como presente?
Antes de mais, só ofereço livros que já li e me agradaram. Depois, de entre esses, escolho um livro que sei poder interessar ao seu destinatário.
Quais são seus projetos literários, a partir de agora?
Não tenho nenhuns projectos, decidi não voltar a publicar nada. Tudo tem um tempo, e o meu tempo, nesta matéria, esgotou-se. Gosto de (quase) tudo quanto escrevi e acho que, a partir de agora, não iria ficar satisfeito com o meu trabalho.
Os livros em formato digital vão mesmo substituir os de papel?
Não sei. Espero bem que não.
Já tem ideias para o seu novo livro?
Não tenho ideias nenhumas, porque decidi não voltar a escrever e a publicar mais nada.
Agora que já conhece a Revista Livros & Leituras (revistalivroseleituras.blogspot.com), que opinião tem deste projeto editorial sem fins lucrativos?
A minha opinião é altamente favorável. O bogue revistalivroseleituras está bem concebido, e por isso só espero e desejo ardentemente que se mantenha assim por muitos e bons anos. Em homenagem, claro está, ao amor às Letras e à Cultura.
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