Numa cidade do interior de um vasto país nasceu, contra todas as previsões, uma criança, filha de um casal de fazendeiros, que iria pô-la no mapa. Ao nascer, um «anjo torto» disse-lhe: «Vai, Carlos, vai ser gauche na vida», e ele, obedecendo, jamais se ajustou consigo próprio, com os homens, com Deus, com o destino. Ao seu desajuste, contudo, correspondeu uma vasta e prodigiosa obra poética, que mudou a face da literatura do seu país.
Tendo vivido num século maldito, do irromper da sociedade de consumo e da bomba atómica, fez da poesia uma arma contra a morte e contra o tédio de uma vida burocrática, de funcionário público. Com um apelido de fantasma – Drummond – deu voz ao homem angustiado do seu século, e rasgou novos horizontes no reino da poesia, sem falsos sentimentalismos e sem jamais ceder à hipocrisia social. Porque, como observou, «No meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho».
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