Em "O jovem", escritora francesa Annie Ernaux descreve num relato breve a relação amorosa mantida com um homem 30 anos mais novo.
Convocar para a escrita acontecimentos de foro íntimo ou inconfessáveis para a maioria nunca foi obstáculo para Annie Ernaux, como bem o sabem todos quantos já se embrenharam nas páginas dos seus livros.
A diluição de fronteiras entre a realidade e a ficção é mesmo uma das traves-mestras da escrita da Prémio Nobel da Literatura 2022, cuja recente aclamação popular fora de portas só veio conferir justiça a um longo e notável percurso literário.
Se em "O acontecimento", também publicado pela Livros do Brasil, à semelhança de parte substancial da sua obra, Ernaux partilhava com os leitores o drama e as dificuldades por que passou na altura em que fez um aborto clandestino ainda enquanto estudante universitária, "O jovem" oferece-nos outro capítulo autobiográfico impressivo, ainda que de natureza bem distinta.
O princípio orientador em ambos os casos apresenta óbvios pontos de contacto: fazer da própria vida matéria de escrita, como se o objeto de análise pudesse ser afinal qualquer um, tal a forma analítica e rigorosa como se distancia do sucedido.
In JN
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